A criação e a maioridade da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, por Rui Cerqueira
Na primeira parte dos anos 1980 o país passava por um período agitado com a ditadura se dissolvendo. Nesta época o número de mastozoólogos no país era ainda muito pequeno e de certa forma, dispersos e não completamente reconhecidos.
Dessa forma, em uma conversa entre Cecília Torres de Assumpção, Mario de Vivo e Rui Cerqueira, durante a reunião da SBPC em Campinas em 1982, levantou-se a necessidade de sabermos quem seriam os estudiosos e interessados em mamíferos no Brasil.
Com a ajuda de Fátima Motta procurou-se contatar os estudantes de pós-graduação, amadores, professores, pesquisadores. Nos dois anos seguintes se conversou e surgiu a ideia da criação de uma Sociedade Brasileira de Mastozoologia.
Em janeiro de 1985, durante o XII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em Campinas, solicitamos aos organizadores que nos reservassem um espaço para uma reunião dos mastozoólogos e demais interessados. Alguns cartazes foram feitos e avisos foram passados oralmente, e no fim da tarde do dia 29 um dos auditórios estava lotado!
Fátima, Mario e Rui que tinham convocado a reunião, acabaram conduzindo a mesma. Rui explicou que estávamos ali para discutir como aumentar o intercâmbio entre os interessados em estudar mamíferos, uma vez que a comunicação entre os estudiosos era limitada. Entretanto, percebeu-se que, mesmo que as pessoas não trabalhassem com as mesmas coisas, havia muitos problemas comuns.
A sugestão de solução seria “algo” informal. Rui não era a favor da criação de uma sociedade independente, mas “algo” que fizesse parte da Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ). A maioria dos que se pronunciaram, julgaram que não haveria tal espaço e que seria melhor termos uma Sociedade própria. Os argumentos contra não convenceram e uma proposta de criação da SBMz foi votada.
Curiosamente a primeira diretoria “provisória” eleita era a mesa da Reunião: Rui (presidente), Fátima (Secretária) e Mario (Tesoureiro). Mas como no Brasil sem estatuto Sociedades não existem, a reunião virou a Assembleia de fundação da Sociedade Brasileira de Mastozoologia.
Dois anos mais tarde, durante o XIV Congresso de Zoologia, em Juiz de Fora, completou-se a criação da SBMz com a votação do primeiro estatuto. Novamente, a Assembleia Geral resolveu manter a mesma diretoria, agora definitiva. Neste congresso de Zoologia de Juiz de Fora, duas sessões de comunicações orais foram suficientes para toda a nossa produção ser apresentada.
A SBMz manteve durante muitos anos sua ligação com os Congressos de Zoologia, tentando organizar encontros próprios nestes congressos. Interessante é que um dos argumentos pela criação da SBMz era de que, frequentemente, não conseguíamos espaço próprio para nossas reuniões paralelas.
Isto aconteceu algumas vezes quando as Comissões Organizadoras dos Congressos de Zoologia não nos cederam tal espaço próprio. Mas foi outro fator que nos afastou, definitivamente, desta associação.
Com a eterna dificuldade de se conseguir recursos, a SBZ resolveu organizar seus congressos de dois em dois anos e não mais anuais. Como nossas assembleias para eleições eram previstas para serem realizadas de três em três anos, não era possível continuar fazendo nossas reuniões juntamente com a SBZ. Por iniciativa de Thales Renato foi então realizado nosso primeiro congresso.
No número 4 de nosso Boletim, Mario de Vivo chamava a atenção sobre as mudanças que esperávamos na Mastozoologia brasileira nas duas décadas seguintes. Dizia ele que devíamos evitar a formação de grupos fechados, da necessidade de ampliar a amostragem de mamíferos no nosso território e incrementar os contatos com os pesquisadores dos países vizinhos e de centros desenvolvidos.
Pois os vinte anos se passaram desde então e parece que nossa Sociedade teve um bom papel na implementação destas políticas. A Mastozoologia não desenvolveu pequenos grupos, ao contrário, me parece, formamos uma comunidade que, de forma geral, procura mais colaborar do que competir. Temos uma parceria, ainda incipiente, mas sólida com nossos colegas argentinos e uruguaios.
As relações com outros grupos ainda são pequenas, sendo necessário pensar como melhorá-las.
E, apesar de nossos esforços, a amostragem necessária ainda não se realizou. Neste último caso, a SBMz tem discutido a meta de 1.000.000 de espécimes de mamíferos a serem coletados como o mínimo para entendermos, de fato, a diversidade de mamíferos brasileiros. Mas as restrições orçamentárias eternas derivadas das equivocadas políticas econômicas dos últimos vinte anos não permitiram que isto, e muitas outras coisas, acontecessem. E apesar de tudo, a Mastozoologia brasileira cresceu.
Hoje temos pessoas trabalhando em todos os taxa seja na sua classificação, seja em Ecologia ou em Evolução. Dominamos já razoavelmente o conhecimento mastozoológico e já temos algum desenvolvimento próprio das teorias.
No XIV Congresso de Zoologia, quando acabamos de fundar a SBMz, foram apresentados 82 trabalhos sobre mamíferos em comunicações orais. Não tivemos minicursos, conferências ou mesas redondas.
Nos nossos Congressos não pudemos mais ter só comunicações orais, dado o volume de trabalhos apresentados. Foram bons vinte anos.
Os objetivos da política da SBMz vêm sendo perseguidos e cumpridos. Esperamos mais dos próximos vinte anos.
- Rui Cerqueira
Sobre a SBMZ
A Sociedade Brasileira de Mastozoologia (SBMz) é uma sociedade científica, sem fins lucrativos, criada em 1985, com a missão de congregar, organizar e amparar profissionais, cientistas e cidadãos que atuam ou estão preocupados com as temáticas ligadas à pesquisa e conservação de mamíferos.
A SBMz tem como objetivo incentivar o estudo e pesquisa dos mamíferos, além de difundir e incentivar a divulgação do conhecimento científico desenvolvido no Brasil. A SBMz também atua frente a órgãos governamentais, Conselhos Regionais e Federal de Biologia, e instituições privadas, representando e defendendo os interesses dos sócios, e atendendo a consultas em questões ligadas a mamíferos. Nossos associados têm tido participação ativa na elaboração de listas de espécies ameaçadas de extinção, em nível regional, nacional e internacional, bem como nos Planos de Ação Nacionais para a Conservação de diversos grupos de mamíferos, junto ao ICMBio.
A SBMz faz parte do Fórum das Sociedades Brasileiras de Zoologia, uma iniciativa que congrega cerca de 20 sociedades científicas, que têm tido papel relevante em questões acadêmicas e ambientais em nosso país. Nossa Sociedade oferece e incentiva cursos de Mastozoologia em níveis de graduação e pós-graduação, além de conceder auxílio financeiro para participação em simpósios e congressos nacionais e internacionais. Além disso, ajudamos a estabelecer e zelar por padrões éticos e científicos próprios da Mastozoologia brasileira.
A SBMz foi fundada durante o XII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em Campinas/SP, em fevereiro de 1985. Desde então, a SBMz cresceu em número de associados, realizando congressos próprios de periodicidade bienal em diversas regiões do país, além do apoio e promoção de eventos regionais. Nossa sociedade conta com uma publicação própria intitulada Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, com 3 número anuais, classificada como C pela CAPES na área de Biodiversidade.classificada como C pela CAPES na área de Biodiversidade. Além disso, nossa sociedade atualmente é responsável pela edição, em parceria com a SAREM (Sociedade Argentina para o Estudio de los Mamíferos), da revista Mastozoología Neotropical (http://mn.sarem.org.ar/), uma revista de periodicidade semestral, classificada como B1 na área de Biodiversidade da CAPES. Além disso, a SBMz tem tido papel ativo na edição e no apoio financeiro para a publicação de livros acerca de mamíferos brasileiros, que são distribuídos gratuitamente aos sócios.
Fazemos parte da Rede Latino-Americana de Mastozoologia (RELAM), um grupo criado para fomentar a cooperação com pesquisadores de 12 países latino-americanos membros da rede; esta rede tem sido responsável pela organização dos Congressos Latinoamericanos de Mastozoologia, que vem ocorrendo a cada 3 anos. Fazemos parte do fórum da International Federation of Mammalogists (IFM; http://www.internationalmammalogy.org/), entidade científica que organiza os congressos mundiais de mamíferos, International Mammalogical Congress, realizados a cada quatro anos. Também temos cooperação com a Sociedade Brasileira de Zoologia (http://sbzoologia.org.br/), e Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros (https://www.sbeq.net/), facilitando a participação em congressos destas sociedades e promovendo o intercâmbio de informação entre seus associados.
Fruto da criação e organização proporcionadas pela SBMz ao longo desses anos, atualmente o Brasil apresenta uma comunidade científica mastozoológica madura e conectada, que congrega profissionais trabalhando em organizações e instituições públicas e privadas por todo país.
A SBMz manteve durante muitos anos sua ligação com os Congressos de Zoologia, tentando organizar encontros próprios nestes congressos. Interessante é que um dos argumentos pela criação da SBMz era de que, frequentemente, não conseguíamos espaço próprio para nossas reuniões paralelas.
Isto aconteceu algumas vezes quando as Comissões Organizadoras dos Congressos de Zoologia não nos cederam tal espaço próprio. Mas foi outro fator que nos afastou, definitivamente, desta associação.
Os objetivos e finalidades da SBMZ
- Congregar os estudiosos e interessados em geral na Mastozoologia;
- Incrementar a comunicação entre esses estudiosos;
- Promover e incentivar as atividades relacionadas aos estudos de mamíferos;
- Estimular o contato com sociedades internacionais e nacionais afins;
Representar os mastozoólogos brasileiros junto à Comunidade Científica Nacional e Internacional, assim como a Entidades Governamentais e Privadas;
- Zelar pela preservação da fauna dos mamíferos brasileiros e de seus hábitats;
- Atender a consultas de Instituições Públicas e Privadas;
- Divulgar o conhecimento de mamíferos junto à Comunidade Brasileira;
- Incentivar a criação de cursos de Mastozoologia em níveis de graduação e pós-graduação, bem como a concessão de bolsas e auxílios financeiros para formação de mastozoólogos no país;