Histórico

Em 1982, em uma conversa entre Cecília Torres de Assumpção (in memoriam), Mario de Vivo e Rui Cerqueira, durante uma reunião da SBPC em Campinas, começou a ser pensada e discutida uma iniciativa que congregasse interessados em mamíferos. Nos dois anos seguintes, com a participação de Maria de Fátima Dezonne Motta foram contatados os estudantes de pós-graduação, amadores, professores e pesquisadores interessados nessa ideia e foi sendo amadurecida a criação de um grupo que permitisse o intercâmbio de ideias entre estes diferentes atores. 

Em 29 de janeiro de 1985, durante o XII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em Campinas, Mario de Vivo, Rui Cerqueira e Fátima Motta convocaram uma reunião e 124 interessados se reuniram para discutir e pensar os caminhos dos estudos de mamíferos no Brasil. Após muitas deliberações (Histórico do Rui Cerqueira), estas 127 pessoas decidiram pela criação da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, se tornando seus sócios fundadores, nessa que é a assembleia de fundação desta sociedade. Naquele momento da história, os presentes eram, em sua maioria, estudantes, como João Alves de Oliveira (que viria a ser nosso 5º presidente), Cibele Bonvicino (que seria nossa 8a presidente), Lena Geise (uma das editoras do Boletim da SBMz), Marcus Vieira (organizador do III CBMz), Helena Bergallo, Alexandre Uarth Christoff, Eleonore Setz, entre inúmeros outros; alguns poucos eram profissionais ou tinham emprego (poucos), como Mario de Vivo (que ainda fazia seu doutorado no Museu de Zoologia da USP, mas já era Professor da USP; primeiro tesoureiro da SBMz), Thales Freitas (professor da UFRGS, mas ainda cursando seu doutorado na mesma instituição; presidente de nossa 4ª diretoria e das comissões organizadoras de 3 congressos), Rui Cerqueira (professor da UFRJ; nosso primeiro presidente e editor do Boletim por vários anos), Alfredo Langguth (professor da UFPB), Fernando Dias de Ávila Pires (pesquisador do MN), Cleber Alho (professor da UnB), Vera Maria Ferreira da Silva (pesquisadora do INPA). Boa parte destes 127 pioneiros ainda participa de nossa sociedade, eles continuam contribuindo ativamente para o conhecimento dos mamíferos e temos o privilégio, a oportunidade e a felicidade de encontrá-los em nossos congressos, e conhecer um pouco de nossa história; uns poucos infelizmente nos deixaram de forma prematura, como Cecilia Torres de Assunção e Valdir Antônio Taddei, mas deixaram um importante legado. 

Logo após a fundação da SBMz, em fevereiro de 1985, representantes desta participaram da elaboração de um documento entregue ao governo do recém-eleito presidente Tancredo Neves, para a reestruturação do “Sistema Científico e Tecnológico Nacional”, junto ao recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia. Esse documento seria a pauta de uma reunião a ser organizada pela SBPC com a presidência, mas esta nunca chegou a acontecer, por conta da doença do Sr. Presidente da República. Os temas a serem discutidos eram bastante importantes à época, como a “criação de um Plano de Emergência para pesquisa científica”, e continuam sendo até os dias de hoje, embora não há como negar que houveram momentos de grande incentivo à ciência em anos passados. E assim como no passado, SBMz continua hoje a participar ativamente junto a outras sociedades (SBZ e outras sociedades zoológicas brasileiras) na reivindicação de melhores condições de ensino e pesquisa em nosso país.

Em maio de 1985, a diretoria da SBMz publicou o primeiro Boletim Informativo da sociedade, a forma de comunicação desta com seus associados, em seções denominadas Literatura Corrente, O que vai pelos laboratórios, Coleções Mastozoológicas e outras informações. Neste boletim, foi aberta uma campanha para escolha do símbolo da SBMz: naquele momento, havia a sugestão de uma espécie de marsupial do gênero Marmosa, mas sugestões ainda eram esperadas. Ainda em 1985 a onça-pintada foi sugerida como símbolo (por Paulo Rotter), mas em 1987, durante assembleia da SBMz realizada no XIV CBZ, em Juiz de Fora, foi escolhida a preguiça-real, Bradypus torquatus, espécie endêmica da Floresta Atlântica brasileira, já ameaçada de extinção àquela época, como símbolo da SBMz (a proposta desta espécie foi feito por Celio Valle e defendida por Alfredo Langguth). Este símbolo aparece pela primeira vez no Boletim Informativo de número 10 e se mantém com nosso símbolo até hoje, embora tenham havido pequenas mudanças ao longo da história (leiam Editorial no Bol. Soc. Bras. Mastozoologia, 78, publicado em 2017, com a história de nossa logo aqui!

Em 1987, durante o XIV Congresso de Zoologia em Juiz de Fora, o primeiro estatuto da SBMz foi aprovado em Assembleia Geral Ordinária, o que completou a criação da SBMz e a grafia desta abreviatura, com o z minúsculo. A diretoria provisória eleita em 1985, formada por Rui (presidente), Fátima (secretária) e Mario (tesoureiro), foi devidamente empossada e reconduzida nesta assembleia, com a participação de Beatriz Carvalho como segunda tesoureira e Paulo D’Andrea como segundo secretário. A 2ª diretoria, composta por Maria Dalva Mello, Jader S. Marinho Filho e Paulo S. D’Andrea, foi eleita em 1991, durante o XVIII CBZ ocorrido em Salvador. 

Durante vários anos, a SBMz manteve uma ligação com os Congressos de Zoologia, tentando organizar encontros próprios nestes eventos de âmbito nacional. No XX CBZ, em 1994, no Rio de Janeiro, foi organizado o I Encontro Nacional de Mastozoologia, no qual foi eleita nossa 3ª Diretoria, composta por Ives Sbalqueiro, como Presidente, Luiz Flamarion B. Oliveira, como Secretário, e Thales R. O. Freitas, como tesoureiro. Em 1996, durante o XXI CBZ, em Porto Alegre, foi realizado o II Encontro Nacional de Mastozoologia, organizado por esta diretoria, cujo mandato se encerraria em 1997, mas como não haveria CBZ em 1997, esta diretoria foi reconduzida até 1998, quando se realizaria o próximo congresso.

Entretanto em diversas ocasiões as Comissões Organizadoras destes congressos Zoologia não nos cederam espaço e isso acabou levando a um afastamento de nossas sociedades. Mas o que levou a SBMz se separar de forma definitiva da SBZ e seus congressos, foi o fato da SBZ organizar seus congressos de dois em dois anos e não mais anuais, uma decisão tomada em assembleia em 1992. Segundo Rui Cerqueira, “Como nossas assembleias para eleições eram previstas para serem realizadas de três em três anos, não era possível continuar fazendo nossas reuniões juntamente com a SBZ”. Dessa forma, o mandato desta 3ª diretoria, foi prorrogado até 1998, quando da realização do XXII CBZ, em Recife. A comissão organizadora deste evento não cedeu um espaço para a reunião do III Encontro Nacional de Mastozoologia (este III encontro então foi suspenso), mas houve a realização de uma assembleia para formalizar alterações estatutárias e eleger uma nova diretoria. A 4ª diretoria da SBMz eleita era formada por Thales R. O. Freitas (Presidente), Alexandre U. Christoff (Secretário) e Susi M. Pacheco (Tesoureira), com mandato até 2001. Por conta destas dificuldades com a SBZ e por conta do número de participantes alcançado, a SBMz com a condução desta diretoria começou a amadurecer a ideia de realizar o I Congresso Brasileiro de Mastozoologia, no ano de 2001. Todavia, o local de organização do congresso demorou a ser definido: a princípio seria organizado no Rio, por Leandro Salles, mas esta proposta não se concretizou; depois, houve uma tentativa de organização por Ives Sbalqueiro, em Curitiba, mas esta também não foi bem sucedida; finalmente, Thales Freitas e os demais membros da diretoria levaram a organização do I CBMz para Porto Alegre, realizando o congresso na PUC-RS. Neste congresso houveram importantes alterações estatutárias, como a eleição de novas diretorias a cada dois anos (não três), de forma síncrona com a realização dos futuros congressos e o aumento dos cargos de diretoria, com a inclusão de um vice-presidente e de segundos secretário e tesoureiro. Além disso, os associados aprovaram o início de uma maior aproximação com a “Sociedad Argentina para el Estudio de los Mamíferos” (SAREM), com a possibilidade de realização de uma reunião conjunta no futuro e a distribuição da revista editada por esta sociedade, Mastozoologia Neotropical, aos associados da SBMz. Esta diretoria foi reconduzida por mais 3 anos, com a inclusão de novos membros, Helena Bergallo como secretária e Emerson Monteiro Vieira, como tesoureiro.

Em 2000, o Boletim Informativo, passa a ser chamado de Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, mas mantém um conteúdo ainda semelhante aos seus primeiros números, com um claro incremento em seções e em informações disponibilizadas.

A partir de 2001, os congressos foram organizados de forma regular em anos ímpares até 2005, no III CBMz (Anais dos Eventos ), quando foi eleita a 5ª Diretoria, presidida por João Alves de Oliveira, e composta por Paulo D’Andrea, Lena Geise, Helena Bergallo, Rosana Gentile e Gabriel Marroig. Em 2006, por iniciativa das diretorias da SBMz, SAREM e outras sociedades parceiras foi organizado o I Congresso Sulamericano de Mamíferos, em Gramado. Neste evento, foi aprovada a comissão organizadora do IV CBMz, a ser realizado em 2008 e a consequente extensão do mandato da 5ª diretoria para este mesmo ano, uma vez que seu mandato se encerraria em 2007. A partir de então, os congressos foram realizados em anos pares, em 2008, 2010, 2012 e 2014 (Congressos). De 2008 a 2012, a diretoria ficou a cargo de uma equipe presidida por Paulo D’Andrea (6ª e 7ª diretorias), e em 2012 Cibele Bonvicino (8ª e 9ª diretorias) assumiu esse cargo, se mantendo até 2017. Durante a vigência da 9ª diretoria, no congresso de Gramado, em 2014, foi feita uma proposta da realização do próximo congresso em 2015, em João Pessoa, para a celebração dos 30 anos da SBMz e para que os congressos voltassem a ser realizados em anos ímpares; com isso, esta diretoria solicitou em plenária uma extensão de seu mandato até 2017, visto que esse se encerraria em 2016.

Associados fundadores da SBMz, durante o VIII CBMz, ocorrido em João Pessoa, em 2015, em comemoração dos 30 anos da sociedade

Em 2002, a aproximação com a Revista Mastozoologia Neotropical (MN) se concretizou, e começamos a revisar os trabalhos de autores brasileiros, através de um sub-comitê da MN: Thales Freitas era o editor brasileiro e foram revisados, neste período, cerca de 20 artigos. No Congresso Sul-Americano de Mastozoologia, em 2006, houve uma reunião entre SBMz e SAREM e houve a consolidação desta colaboração e essa parceria se mantém até hoje, com a revista MN sendo um veículo científico binacional, com brasileiros e argentinos dividindo a responsabilidade e a política editorial deste importante jornal científico. 

Em 2014, foram implementadas mudanças editoriais importantes no Boletim, com alterações de identidade visual, formato e conteúdo, com um formato de revista científica e menos de teor informativo: novas seções foram criadas e outras suprimidas. Lena Geise e Erika Hingst-Zaher, que ainda estão à frente do Boletim, foram as editoras responsáveis por implementar estas mudanças. 

No IX CBMz realizado em Pirenópolis foi eleita uma nova diretoria, a 10ª, novamente sob a presidência de Paulo D’Andrea (Diretorias). Em reunião extraordinária neste evento foi discutida a possibilidade de mudar o nome do Boletim, para Revista da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, mas este item não foi apreciado na reunião ordinária. Em 2019, no X CBMz em Águas de Lindóia, este assunto foi novamente discutido em reunião extraordinária, mas houveram moções contra essa alteração (p.ex., em virtude da existência de uma revista da SBMz, Mastozoología Neotropical) e novamente o assunto não foi discutido durante a assembleia geral ordinária. Neste congresso, foi eleita uma nova diretoria, a 11ª, sob a presidência de Alexandre R. Percequillo (Diretorias); essa foi a primeira vez que a diretoria foi em sua totalidade para o estado de São Paulo. Esta diretoria iniciou uma série de reuniões com as editoras do Boletim, com o propósito de i) discutir o papel desse veículo de comunicação científica junto à SBMz; ii) atribuir o DOI aos artigos publicados no Boletim; iii) regularizar diversos aspectos junto ao IBICT para obtenção do ISSN da versão online da revista; e iv) eventualmente apresentar uma proposta formal de alteração de nome deste veículo para a ser discutido em plenária.

Passados estes 35 anos, vários avanços foram conquistados: mamíferos são animais carismáticos e o número de acadêmicos e interessados neste grupo vem crescendo ano a ano. A produção científica brasileira neste grupo é expressiva em quantidade e qualidade, com artigos publicados em importantes revistas nacionais e internacionais, empregando métodos e conceitos que representam o estado da arte em várias áreas do conhecimento científico. Thales Freitas em uma busca no Web of Science em junho de 2020 (palavras-chave: mammals e Brasil) de 1952 até o presente obteve 2246 artigos, uma média de 30 artigos por ano, mais de 2 por mês: o primeiro nesta lista foi ‘Fossil mammals from the beginning of the Cenozoic in Brazil – Condylarthra, Litopterna, Xenungulata, and Astrapotheria’, no Bulletin of American Museum of Natural History, de autoria de Carlos de Paula Couto; o mais recente ‘Bottom-up effect: a rodent outbreak following the bamboo blooming in a Neotropical rainforest’, na revista Mammal Research, autorado por Ricardo Bovendorp, Marcel Heming e Alexandre Reis Percequillo. Além disso, mamíferos são importantes bioindicadores e dados sobre sua diversidade e abundância, entre outros parâmetros, são essenciais em atividades de licenciamento ambiental (EIA’s e Estudos de Monitoramento): isso promoveu um grande salto no conhecimento deste grupo, a ponto de editarmos um volume especial do Boletim sobre esse assunto. Novos grupos de pesquisa têm propiciado um aumento significativo no número de amostras depositadas em museus e coleções, aumento esse que tem se traduzido no aumento do número de espécies no Brasil e na região Neotropical (Lista de Mamíferos): ainda não atingimos 1.000.000 de espécimes em nossas coleções, uma meta estabelecida no II Encontro Nacional de Mastozoologia, em Porto Alegre (Histórico Rui), mas estamos neste caminho. Estes novos grupos de pesquisa, formados não apenas por acadêmicos tradicionais, mas também por membros de ONG’s e institutos de pesquisa (como ICMBio, Pró-Carnívoros, Zoológicos públicos e privados, entre outras instituições), têm produzido dados novos e importantes sobre a ecologia e conservação de mamíferos.

Somos uma sociedade forte e participativa, que congrega um bom número de associados fiéis, um número expressivo de associados flutuantes e um público bastante expressivo nos eventos realizados ao longo de nossa história (chegando a mais de 800 participantes em alguns eventos). Chegamos longe, mas ainda temos um longo e importante caminho a fim de desvendarmos a diversidade deste fascinante de animais: Contamos com sua participação para atingirmos esse objetivo!

Atas de Fundação

Linha do Tempo