À Diretoria e Comissão Organizadora do XII CBMz da Sociedade Brasileira de Mastozoologia
Nós, fundadores do grupo Negros na Mastozoologia, viemos por meio desta nos apresentar e trazer reflexões, contribuições e propostas para ações afirmativas no que se refere às questões raciais em nossa área de atuação, bem como solicitar apoio de divulgação do grupo aos membros da SBMz.
No XII Congresso Brasileiro de Mastozoologia que aconteceu entre os dias 23 a 27 de setembro em Búzios (RJ) foram reunidos 804 participantes, sendo 295 profissionais, 273 graduandos, 208 pós-graduandos e 28 pós-doutorandos de diversas regiões do Brasil e outras nacionalidades. O evento foi recordista em números de inscritos e trabalhos submetidos. Contudo, foram necessárias 12 edições desse evento científico de referência para que nós, pessoas negras, reconhecêssemos uma tímida parcela de participação de estudantes e profissionais negros, maior que nas edições anteriores, bem como nos reconhecêssemos nos corredores do evento e em premiações. Cientes hoje da existência do Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão da Sociedade Brasileira de Mastozoologia (CDEI/SBMz) e mesmo diante deste cenário extremamente importante para nós, gostaríamos coletivamente de evidenciar a urgente e necessária ação ativa por representatividade étnico-racial neste nosso cenário.
É preciso descolonizar o conhecimento científico. No Brasil, 55,5% da população é preta ou parda (IBGE, 2022). Entretanto, apenas 18% dos jovens negros de 18 a 24 anos (considerando homens e mulheres) ingressam no nível superior, conforme levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2020. Na pós graduação, os pretos, pardos e indígenas são minoritários e compreendem cerca de 5% da área de Biodiversidade e 6,5% da área de Ciências Biológicas de acordo com Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas da UERJ (GEEMA, 2023). As estatísticas corroboram a realidade que encontramos na Sociedade Brasileira de Mastozoologia.
A formação de uma comunidade de pessoas negras para discutir temas relevantes à diversidade, equidade e inclusão, integrando nossas vivências, representa uma necessária mudança de paradigma. Diante dessa urgência, organizamos um grupo no WhatsApp com algumas das pessoas negras presentes no XII CBMz, criando um espaço auto-organizado para debates e apoio mútuo.
Atualmente o grupo conta com a participação ativa de 12 pessoas que antes não se (re)conheciam. A falta de representatividade de pessoas negras não apenas empobrece a produção científica e acadêmica, mas também restringe o debate e a incorporação de múltiplas perspectivas, que seriam fundamentais para o enriquecimento do conhecimento sobre a mastofauna brasileira.
Reforçamos que práticas pouco críticas contribuem para o fortalecimento do racismo estrutural ao perpetuar desigualdades raciais e normalizar a discriminação, exclusão e falta de acesso. Essas práticas frequentemente passam despercebidas ou não são questionadas, como o fato de não ter nenhuma pessoa palestrante negra nas palestras principais. Há quanto tempo esse fenômeno vem acontecendo? Hoje o Brasil abriga 778 espécies de mamíferos. Tal diversidade da mastofauna brasileira, porém, não reflete a diversidade de cabeças pensantes e atuantes dentro da Sociedade Brasileira de Mastozoologia.
Diante do exposto e com a intenção de positivamente questionar, movimentar, trazer propostas e provocar transformações sociais nos espaços que frequentamos e ocupamos, gostaríamos que a pauta étnico-racial tenha o devido destaque seja tanto durante os eventos realizados pela Sociedade quanto em sua composição propriamente dita, uma vez que se torna evidente a falta de representatividade.
Por fim, solicitamos o apoio da SBMZ para divulgar o nosso grupo, criando um espaço onde todas as pessoas autodeclaradas negras que já se sentiram sozinhas possam se conectar e reconhecer dentro desse grupo de trabalho tão rico e transformador. Acreditamos que o fortalecimento na coletividade reflete nosso compromisso com a diversidade e com as futuras gerações de mastozoólogos brasileiros. Que juntos possamos transformar realidades.
Segue o link de acesso ao grupo de WhatsApp “Negros na Mastozoologia”:
https://chat.whatsapp.com/F8w9ZkoAmMz0zPReWHAl3N
Atenciosamente e à disposição,
Associados integrantes:
Marianne Bello
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Lucas Belchior
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Barbara Lima Silva
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
Brenda Ferraz Nascimento
Universidade de Vila Velha (UVV)
Thaís de Paula Alencar da Silva
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Paloma Marques Santos
Instituto Tamanduá
Raquel Costa da Silva
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
REFERÊNCIAS
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2022: população e domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2022
GEMAA – Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa. Desigualdades raciais na ciência brasileira. Disponível em: https://gemaa.iesp.uerj.br/infografico/desigualdades-raciais-na-ciencia-brasileira/. Acesso em: 7 out. 2024.
IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. A desigualdade racial no ensino superior. Brasília: Ipea, 2020. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/. Acesso em: 7 out. 2024.